30/05/2010

Eureka!

Hoje eu descobri algo. Procuro o silêncio nos lugares errados.

Tenho desesperadamente ansiado por silêncio. Todo e qualquer barulho tende a me irritar, implico até com a forma como o povo digita no computador (bom, vamos combinar que tem gente que acha que ainda está usando uma Remington e martela as teclas sem dó nem piedade). Ando com a impressão que o mundo é uma gigante micareta.

Os sons vem de todos os cantos: celulares, telefones, músicas, televisão, buzinas, escapamentos, reformas, vozes. É de deixar neguinho tonto.

Assim que hoje à tarde resolvi que iria me presentear com um pouco de silêncio. Peguei um livro, minha ânsia por um pouco de solidão e rumei pro Fran's Café mais próximo. Quando entro, já preparada pra voltar pra trás se houvesse muita gente, agradabilíssima surpresa: só uma mesa ocupada por um casal que me pareceu a principio bastante entediado. A glória! Não tinham cara de grandes conversadores. Peguei a última mesa lá no fundinho, pedi um... milk shake (é, não bebo café), abri o meu Luis Fernando Veríssimo e me preparei pra diversão! Ôba! Estava no estado de ansiedade pelo prazer que beira a felicidade.

Muito chocolate (que ando precisada), Veríssimo, êxtase... que não durou nem 5 minutos. Eis que entra no lugar um grupo de 4 mulheres. Dá pra entender? Qua-tro! Mulheres! Elas nem haviam sentado e eu já via o meu tão amado silêncio saindo pela mesma porta que elas entraram. E com tanta mesa vaga, vieram sentar-se ao meu lado, óbvio. Eu odeio Murphy.

E como falavam, nossa, eu nem sei bem como é que elas conseguiam se entender. Sabe, quando parece que as pessoas não se vêem há anos e todas querem contar tudo ao mesmo tempo? Assim era. Aliás, sempre acho estranho como tem gente que consegue falar o tempo inteiro. A bem da verdade não se pode aproveitar muito do que diz a maioria, no melhor estilo Legião, falam demais por não ter nada a dizer. Porque se está falando falando falando desenfreadamente, em que momento exatamente se pensa? Me dá fobia mesmo gente que fala demais.

Saí de lá com a impressão que meus ouvidos estariam mais descansados se eu tivesse ido a uma creche.

Eis que surpreendentemente tenho a casa vazia a noite. Aha! Agora é silêncio mesmo, puro, simples e relaxante. Nem vozes, nem televisão, nem nada. Somente eu, uma taça de vinho e o computador (sem som).

Silêncio... silêncio???

Ôpa, ôpa, ôpa... algo estranho... tudo está quieto, mas não silencioso... Como pode ser?

E aí um lampejo, a descoberta de que tenho procurado o silêncio nos lugares errados. O barulho não está fora, está cá, dentro de mim.

E o ansiado silêncio nunca me pareceu mais distante.

21/05/2010

...

"Todos os seres estão presos por fios invisíveis, você puxa um e move o conjunto. Por isso cada pequena ação afeta tudo e a todos" (trecho extraído do livro Amor em Minúscula, de Francesc Miralles e atribuido a Jung)

E é mais ou menos assim mesmo, provavelmente não nessa magnitude. Mas realmente não temos idéia enquanto agimos, do quanto isso poderá afetar alguém, muitas vezes pessoas que sequer conhecemos.
Finalmente nossas decisões não dizem respeito só a nós mesmos como achamos muitas vezes, algumas dessas vezes alteramos o curso da história de outros. E o inverso também é verdadeiro, decisões que não estão ao nosso alcance alteram também o rumo da nossa história.
E a gente sempre com essa ilusão de que está no controle da própria vida...

16/05/2010

...

Que mistério faz com que no meio de uma multidão planetária, você encontre a pessoa certa?
É, vou chamar aqui de pessoa certa porque não consigo nomear de outro jeito. Vou definir aqui como certa aquela pessoa que te faz ter vontade de ficar junto o máximo de tempo possível; aquela que te entende mesmo quando nem você se entende; essa que continua a gostar de você apesar de você; das que se importam genuinamente com você e você com ela; e que mesmo sabendo que você acorda descabelada, sem maquiagem e de mal humor, ainda quer continuar acordando com você. Precariamente definido.
Eu sei que não há uma única pessoa certa, que por aí devem existir pelo menos algumas do número correto e também que isso pode variar ao longo da vida, mas convenhamos que não podem ser tantas assim como que para encontrar uma em cada quarteirão, mesmo que você more numa cidade super populosa.
O que faz então com que estejamos no lugar certo, na hora exata? Que coisa fez com que você pegasse justo o mesmo ônibus, ou fosse morar na mesma rua, ou trabalhar no mesmo prédio, ou caminhar no mesmo horário ou fazer aquela viagem? Mais difícil ainda, na infinidade de opções e pessoas que há na internet, como encontrou-se justamente com aquela?
Destino? Acaso? Todos os rumos que já tomamos na vida foi para que convergíssemos nesse encontro? Particularmente eu não gosto muito do destino e não acredito no acaso. Também não me agrada pensar e não consigo aceitar a idéia de que tudo seja pré-determinado. Afinidade poderia explicar alguns desses encontros, mas não a maioria.
E assim, sendo tão frágil, aleatório e incontrolável, também não é estranho pensar que um pouco a mais ou a menos e você sequer saberia da existência dessa pessoa?
Bom, quiçá seja mais uma dessas coisas que a gente nem deve tentar entender, só aproveitar quando chega e enquanto é.

09/05/2010

Manhê!

Me lembro de que quando minha filha mais velha era bem pequenina, com poucos dias, eu me peguei olhando para ela e pensando: como é que eu consegui viver até aqui sem ter você comigo?
E assim, durante todos esses anos, essas duas pessoinhas (já nem tão pessoinhas assim) me ensinaram o gratificante exercício do desprendimento, do desapego, de doar-se com o único objetivo de cuidar, educar, proteger e proporcionar felicidade. Me ensinaram a respeitar as individualidades.
Não é o paraíso, muitas vezes eu tenho síndrome de Forrest Gump, mas então, quando aqueles rostinhos olham para você no comecinho do Dia das Mães, te dão um presente confeccionado por elas mesmas - que não tem valor financeiro algum, mas que você vai guardar para o resto da vida como se fosse o seu maior tesouro - e te dizem: “mãe, eu te amo, e não canso de agradecer o presente que é ser sua filha, você é minha vida” aí então você entende que qualquer esforço e qualquer sacrifício nunca é demais se você puder ver esses olhinhos sorrindo.
Como já bem disse alguém que não me lembro quem: ter filhos é decidir ter, para sempre, o coração fora do corpo.

01/05/2010

Eu te amo não diz tudo, e agora diz menos ainda...


Hoje, dando uma fuçada na internet em lugares como Orkut e afins como quem pula de galho em galho, sem rumo, dei para reparar na quantidade de pessoas que se amam. Fiquei bestificada. E assustada.

Porque de duas, uma: ou eu sou séria demais ou tem gente leviana demais.

Tem muita gente da qual eu gosto, pelas quais sinto imenso carinho, mas as que amo, amo mesmo posso contar nos dedos, e corre-se o risco de sobrar dedos.

Sempre pensei que amor fosse coisa séria, desses sentimentos tão grandes que fogem à definição, mas bom, você sabe o que é amor finalmente - de pai, de mãe, de irmãos, de amigos, de homem/mulher - mas assim, quando dito tão displicentemente, quando distribuido tão facilmente como se fosse santinho de candidato em época de eleição, parece que perde o brilho, perde a importância, perde a grandiosidade, a magia. Fica tão banal, tão comum e sem graça.

“Eu te amo” (que sei não é ortograficamente correto) só para pessoas verdadeiramente especiais. Para que elas se sintam diferenciadas. Se eu digo pra todo mundo que valor tem?

Seria muito lindo se fosse verdade. Ou vai ver eu é que sou descrente nessa grande capacidade de distribuir amor. Descrente finalmente.