Hoje eu descobri algo. Procuro o silêncio nos lugares errados.
Tenho desesperadamente ansiado por silêncio. Todo e qualquer barulho tende a me irritar, implico até com a forma como o povo digita no computador (bom, vamos combinar que tem gente que acha que ainda está usando uma Remington e martela as teclas sem dó nem piedade). Ando com a impressão que o mundo é uma gigante micareta.
Os sons vem de todos os cantos: celulares, telefones, músicas, televisão, buzinas, escapamentos, reformas, vozes. É de deixar neguinho tonto.
Assim que hoje à tarde resolvi que iria me presentear com um pouco de silêncio. Peguei um livro, minha ânsia por um pouco de solidão e rumei pro Fran's Café mais próximo. Quando entro, já preparada pra voltar pra trás se houvesse muita gente, agradabilíssima surpresa: só uma mesa ocupada por um casal que me pareceu a principio bastante entediado. A glória! Não tinham cara de grandes conversadores. Peguei a última mesa lá no fundinho, pedi um... milk shake (é, não bebo café), abri o meu Luis Fernando Veríssimo e me preparei pra diversão! Ôba! Estava no estado de ansiedade pelo prazer que beira a felicidade.
Muito chocolate (que ando precisada), Veríssimo, êxtase... que não durou nem 5 minutos. Eis que entra no lugar um grupo de 4 mulheres. Dá pra entender? Qua-tro! Mulheres! Elas nem haviam sentado e eu já via o meu tão amado silêncio saindo pela mesma porta que elas entraram. E com tanta mesa vaga, vieram sentar-se ao meu lado, óbvio. Eu odeio Murphy.
E como falavam, nossa, eu nem sei bem como é que elas conseguiam se entender. Sabe, quando parece que as pessoas não se vêem há anos e todas querem contar tudo ao mesmo tempo? Assim era. Aliás, sempre acho estranho como tem gente que consegue falar o tempo inteiro. A bem da verdade não se pode aproveitar muito do que diz a maioria, no melhor estilo Legião, falam demais por não ter nada a dizer. Porque se está falando falando falando desenfreadamente, em que momento exatamente se pensa? Me dá fobia mesmo gente que fala demais.
Saí de lá com a impressão que meus ouvidos estariam mais descansados se eu tivesse ido a uma creche.
Eis que surpreendentemente tenho a casa vazia a noite. Aha! Agora é silêncio mesmo, puro, simples e relaxante. Nem vozes, nem televisão, nem nada. Somente eu, uma taça de vinho e o computador (sem som).
Silêncio... silêncio???
Ôpa, ôpa, ôpa... algo estranho... tudo está quieto, mas não silencioso... Como pode ser?
E aí um lampejo, a descoberta de que tenho procurado o silêncio nos lugares errados. O barulho não está fora, está cá, dentro de mim.
E o ansiado silêncio nunca me pareceu mais distante.